quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Elias entrou sussurrando:
_ Sofia, 'You know who' tá em casa?
_ Não, Elias. Vem jantar.
Elias se desfez dos instrumentos de treino e sentou ao lado de Sofia na mesa de jantar. Ambos pegaram pão, passaram manteiga e o molharam no café. Os dois se respeitavam muito e eram cúmplices em várias coisas. Tinham muito zelo um pelo outro e uma confiança de fazer inveja a qualquer irmão de sangue. Elias, esta noite, estava um pouco nervoso. Nem olhava direito pra Sofia, o que a fez ficar curiosa.
_ Elias, o que está acontecendo...?
Elias nem comia e olhava pros lados pra ver se chegava alguém. Eliseu estava logo ao lado, mas nem iria escutar algo, jogava alguma coisa e o som estava alto nos fones. Clarissa agora dormia de bruços no sofá. Sofia olhava pra Elias esperando alguma resposta. Elias finalmente olhou pra ela e disse:
_ Eu estou gostando de uma menina do balé.
Sofia, empolgada, se lançou pra frente do irmão.
_ Quem ?
Calma, Elias não faz balé. Quem faz é Sofia. E hoje ela tinha faltado. Por quê? Ah, preguiça. Sofia sempre faz isso. Deixa tudo por preguiça. Ela só não tem preguiça de comer.
_ Hum, Gabi.
_Quem é Gabi?- Sofia nunca foi de gravar nomes.
_Aquela baixinha, loirinha... Não.. agora ela tá com o cabelo vermelho. Usa óculos... Tão linda. Como eu faço pra pedir ela em namoro?
Eita, mas já? Menino apressado. Sofia começou a rir. Elias não entendia. Afinal, todos esperavam que esse dia chegasse. O dia que finalmente Elias encontraria uma menina para dar uns beijinhos.
_ Eita menino... Espere um pouco. Você pelo menos já teve alguma conversa com ela?
_ Não... Só a vi de longe e ela é linda. Estou apaixonado por ela. Você me ajuda? Sim, sim... Fale com ela, diga como eu sou.
Sofia estava gargalhando. Tão bonitinho o desespero do irmão. Se engasgou com o café e Elias, preocupado e sem graça foi ajudá-la dando uns tapinhas em suas costas.
_ Ai, Elias... Eu ajudo.
_ Obrigada, Sofia. - Elias beijava as mãos da irmã. Esta fazia cara de nojo.
_ Tá bom, Elias. Pára, eu detesto isso. Ei, já disse pra parar...
_ Eu amo você, minha irmã!
Sofia não iria no balé nem tão cedo. Era quarta-feira e sua aula agora seria apenas na segunda.

domingo, 1 de julho de 2007

Sofia já estava no quinto sono. O livro sobre seu peito.
_ Clarissa!!!!!!
Uma voz lá fora gritava euforicamente, freneticamente, frequentemente.
Sofia já estava no chão com uma mão na cabeça e outra no coração. O livro voou longe e bateu na porta. Respirou fundo. O irmão continuava a gritar feito louco . Sofia foi cambaleando até a sala e viu Clarissa dormindo no sofá. A tv ligada pro nada. Pegou as chaves de casa, foi até a varanda e jogou-as.
_ AAAi! Tem mira não? Ou voce queria mesmo acertar minha cabeça?
A falta de mira era veridica! Mas o prazer que Sofia sentiu ao ouvir a pancada na cabeça de Eliseu foi transcedental. Seu irmão (do meio) era insuportavelmente vaidoso, arrogante, preguiçoso, vagabundo... Quando em casa, Eliseu vivia com a camera fotografica na mão fazendo poses narcisistas. Quando fora não se sabia onde ele poderia estar. As vezes treinava pólo aquático, outras vezes treinava kung fu, quando não se juntava com a turma do le parkour ou ainda se escondia atras de um moro e devorava mais uma vítima (no outro dia a coitada da vez liga e Sofia tem que dizer: "olha... er... eu naõ sei de quem voce está falando..." . enquanto ele fazia os gestos de "não estou", ou "morri").
O coração ainda saltava pelo susto. Resolveu comer pra ver se conseguia se acalmar. Tinha pão e manteiga. Isso já bastava. Eliseu entrou cantando.
_ Cade "you know who"?- Ele perguntou enquanto ligava o computador. Eliseu fez um rastro de agua, estava pingando. Dessa vez ele foi no pólo. O "voce sabe quem" era o codinome da mãe de Sofia. Eliseu detestava-a.
_ Saiu com tio Jorge. Sofia passava manteiga no segundo pão.
Clarissa continuava a dormir. Suas pernas estavam em cima do sofá em forma de "v", a cabeça caida juntamente com as mãos.
Sofia abria o quarto pão.
_Clarissa!!!!!
Elias chegou. O irmão justo, protegido de Sofia. Dois anos mais novo que ela. Alto, magro, olhos verdes, cabelos negros e grossos. Simpático, doce, calmo. Devia ter chegado do kung fu, seu motivo de vida. Sonha em fazer Ed. Física e montar uma academia. Treina todos os dias para o campeonato estadual. Admirado por muitos, cheio de meninas no seu pé, mas ao contrario do irmão Eliseu, Elias é romantico e sonha com a mulher ideal. Sofia levantou-se de um pulo e com o pão na boca pegou as chaves que estavam no chão (Eliseu nunca as coloca no lugar certo) e jogou pela varanda com levesa.Voltou para a cozinha e colocou mais um lugar a mesa.

domingo, 6 de maio de 2007

Cap. 1

“Só preciso de silencio"

"...a operação 2.74 da polícia federal..."

- Clarissa, desliga essa porcaria de TV! Eu estou tentando terminar esse livro. - Sofia estava lendo Drácula, de Bram Stoker fazia uns seis meses, ou mais. Segundo ela, era um livro chato-empolgante, se não conseguisse concentração nunca terminaria de ler aquela serie de "diários".

- Ah, Sofia, eu estou assistindo...

Clarissa, comendo chocolate, recortava desenhos de uma revista infantil!

- puff... Murta, você esta sujando a cama e o chão com essas suas besteiras... Sai do meu quarto!

Murta, quer dizer, Clarissa, saiu do quarto gritando: "nosso quarto!!!, nosso!!!" Bateu a porta que novamente se abriu com o impacto! Esqueceu-se de desligar a tv.

Sofia joga o livro na cama, coça a cabeça, e vai até a TV para enfim desliga-la. Aproveita que está de pé e fecha a porta. Liga o ventilador, deita-se e se cobre com o edredom cor-de-rosa. Ajeita o travesseiro para que ela ficasse inclinada. Voltou os olhos para aquelas letras torturantes.

"... o conde, pálido, com um olhar tenebroso, diabólico, tomou Sra. Harker em seus braços e...!

BLEM BLEM BLEM BLEM!!!!

-Sofia, olha esse arranjo!!!

Seu padrasto, Jorge, acabara de escancarar a porta! Tocava violão e queria mostrar a sua nova composição. Já era rotina. Todos os dias Sofia se assustava com a entrada do seu padrasto cantando e tocando! Sofia podia estar dormindo, se trocando, estudando, dançando de frente ao espelho, comendo escondida, fazendo qualquer coisa, que Jorge, sempre alegre, entrava de repente para lhe mostrar um novo arranjo, uma nova música, ou só pra tocar, sem pedir nenhuma opinião!

- Tio Jorge, estou lendo! Para com esse troço irritante, por favor! Falou Sofia levantando o livro cobrindo-lhe o rosto.

- Ah, desculpa... - Disse Jorge num tom muito triste e frustrado.

Sofia já sabia o que ele sempre falava e o imitava com perfeição. Fazia uma voz grave, mexia os braços pra frente, pra trás e trazia as mãos à cabeça: "tsc! Ninguém me dá importância nessa casa!"

Voltou-se mais uma vez ao livrinho de 400 paginas.

- hum, Van Helsin se retirou... hum... Dr. Seward... Senhora, Senhora. - os seus dedos corriam pelas letras soníferas procurando onde tinha sido interrompida - ah, aqui.. "... tomou Sra. Harker em seus braços e...”. Que é mãe?

- Que é mãe uma ova, olha o respeito menina! Eu sou sua mãe, não uma amiguinha de escola. Ah é, você não freqüenta mais a escola, virou uma vagabunda, bla bla bla bla.

Sofia fingia ler enquanto sua mãe de 1.47m falava ao vento. A mãe tinha entrado, também de repente, no quarto. Ia sair com seu marido, pois este estava muito triste com a desvalorização de seus talentos. Abriu o guarda-roupa da filha. Sofia logo se alertou: "não, minhas roupas de novo não". Lançou um olhar de desprezo para a mãe.

- Sofia! Quem e que te sustenta? blá blá blá blá..

A filha rebelde, que só queria um minuto de silencio para se deliciar com aquele clássico do romantismo, olhava para a testa da mãe esperando-a terminar mais um velho discurso.

- Terminou? - perguntou Sofia com desdém.

- Maria Sofia!

-Mãe, não me chame de Maria!

- Vamos fazer o seguinte: eu não uso mais essas porcarias das suas roupas e você não usa mais nada meu!

- Certo! - Sofia ria de raiva. Sua mãe saiu vestida com o vestido predileto da filha, bateu a porta com tanta força que esta se abriu novamente.

De longe escutou: "vamos Jorge, não agüento mais essa casa".

Enfim... Silencio.