segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A solução

Era a hora do almoço. Eduardo e Edja colocavam a mesa. Camila lia a 'superinteressante' no sofá da sala. Vitória na rede se deliciava com 'o guia do mochileiro das galáxias'. Lucas tocava violão e cantava desafinadamente, no quarto, a música da sua banda 'sunset'. André...? Ah, que pergunta...
- Crianças!!! Preparados para mais uma jornada gastronômica? - disse Eduardo com empolgação.
- Ai, amor. Foi tão rápido hoje, né? - disse Edja manhosa.
Geralmente a família almoça nos domingos às 2, 3 da tarde. Neste dia estavam a mesa de 12:00 em ponto! Camila é a última a chegar na cozinha. Eduardo, sentado na ponta da mesa fazia uma expressão metida. Edja, olhando com carinho a comida, fazia declarações de amor ao marido. Lucas cantava e batucava a mesa, na outra ponta. Vitória tirava do prato com nojo os pimentões, tomates e outras coisas não criançais. Camila olha pra mãe, dá uma piscadela e diz:
- Tio Dudu, eu tenho algo aqui que pode mudar as nossas vidas!!! - Camila segurava a revista e a balaçava freneticamente. Tinha lido uma reportagem sobre uns tais de ' freegans' (free + vegans). - Vamos nos tornar freegans!!! Eles reaproveitam a comida, não pagam aluguel, são felizes, etc.- Mostrou a página da reportagem. Tinha uma foto de uma mulher num latão de lixo recolhendo rosquinhas velhas.- Existe até uma comunidade freegan aqui no Brasil, a 'erva daninha'. Na revista fala que eles organizam um grande jantar todas as noites logo após a colheita de restos de feira livre.
Edja olhava assustada. Lucas nem ligava. Vitória concentrada na seleção de pimentão. Eduardo olhava fixo para a porta pensativo. - Pois, é, Edja... Aline Barros costuma usar tenores nas suas músicas para preencher... - falava Eduardo desprezando as feições de desgosto da enteada.
- Camila, quer a minha verdura? - perguntava Vitória à irmã desconsolada. Ninguém riu da brincadeira da coitada.
Passou-se o tempo. Discutiram diversos assuntos. Inclusive o desaparecimento do irmão André. Até que:
- Camila, deixe-me ver a revista. - Camila ri baixinho. O padrasto pega a revista, a coloca numa distancia de um braço para facilitar a visão falha. Ele pára. Respira fundo. Seus olhos se enchem de lágrimas. Ouve-se anjos cantando ao fundo. Uma esperança.
- Sim!!! Eis a solução dos nossos problemas!!!!!
Camila entra em desespero... Agora ela seria uma freegan de verdade. 'Como ele pode ter levado a sério', pensava abismada.
- Diga, querido. - disse Edja apaixonadamente.
- Vamos nos tornar freegans!!!!!
Lucas engasgou a comida: - Pai... André já deixou essa vida. E o senhor quer que nós sejamos isso também? Eu gosto de mulher, pai!!! Mulher!!!
- Calma, Lucas... Deixa papai terminar; - dizia Vitória com olhar de admiração.
- Camila, você teve uma ótima idéia! Edja, de agora em diante não vamos mais trabalhar. Moraremos num galpão abandonado. Irei revesti-lo de fibra de vidro, vai ficar show de bola! Teremos nossa própria horta e à noite iremos procurar comida nas latas de lixo! Não será o máximo?! - dizia Eduardo eufórico.
- É isso aí papai!!! Abaixo o capitalismo!!!!!
Eduardo e Vitória pulavam de felicidade. Edja gemia a cada garfada do almoço, como se fosse o último. Lucas chorava embaixo do cabelo e Camila não entendia nada.



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Para maiores informações sobre os freegans brasileiros:
http://ervadaninha.sarava.org/
http://ervadaninha.blogger.com.br/

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

08 de janeiro de 2008
É manhã. Férias. Saco de recesso. Eu sei que a partir do momento que eu pisar na universidade eu vou dizer: 'eu quero recesso'.
Muitas pessoas fazem bom uso desse tempo livre, elas dormem! Mas eu consigo dormir? Não!!! No meu quarto estão duas meninas de 9 anos de idade brincando com qualquer coisa que seja interessante para elas. Agora, neste exato momento, estão concentradas para conseguirem fazer um castelo de cartas de 'Uno'. Claro que após conseguirem elas tiram uma foto, derrubam o castelo e começam tudo outra vez. Eu só queria um pouco de silêncio. No quarto ao lado a minha mãe toca violão. No outr quarto de frente ao dos meus pais, meus irmãos tocam qualuqer coisa que faça barulho. E eu só quero um pouco de silêncio.
Todos estão de férias e todos aproveitam da melhor maneira (brincando, namorando, estudando) esse momento tão precioso de lazer. Eu tenho que começar a procurar outra maneira de descansar que não seja dormir nem comer. Aproveitar que ainda posso vagabundar. Não sou casada, não tenho filhos, nem emprego. Emprego.
Acordei, lavei o rosto, escovei os dentes. Fui pra mesa do café da manhã. Mamãe estava lá.
- Camila, você tem que começar a pensar num jeito de se tornar independente.
Eu penso nisso todo o tempo. Mas minha preguiça não permite encontrar meios para que essa grande realização pessoal possa um dia acontecer. Sempre sonhei em morar sozinha, ter o meu cantinho e não depender de homem nenhum. E o que eu fiz pra tudo isso poder ocorrer? Comi e dormi!
- Minha filha, você precisa trabalhar! Você já está com 19 anos e...
... E com 16 ela já estava trabalhando numa escola chamada IPEP e foi muito agradavel a sensação de ganhar o próprio dinheiro. Lembra que comprou uma calça jeans e um tênis com o primeiro salário. Faz mais de 5 anos que eu escuto isso... Mas essa foi a primeira vez que minha mãe veio conversar comigo sobre eu arranjar um emprego. Fantástico. Mas onde eu posso trabalhar? Trabalhar num shopping feito uma escrava? Não sei... Seria uma opção, né? Estou pensando muito nisso e vejo que realmente é necessario. Putz, claro, né, Camila?
Então... ^^ Quem queiser me contratar pra qualquer coisa, até pra varrer o chão de uma loja... Eu prometo que não vou dormir no trabalho!