domingo, 6 de maio de 2007

Cap. 1

“Só preciso de silencio"

"...a operação 2.74 da polícia federal..."

- Clarissa, desliga essa porcaria de TV! Eu estou tentando terminar esse livro. - Sofia estava lendo Drácula, de Bram Stoker fazia uns seis meses, ou mais. Segundo ela, era um livro chato-empolgante, se não conseguisse concentração nunca terminaria de ler aquela serie de "diários".

- Ah, Sofia, eu estou assistindo...

Clarissa, comendo chocolate, recortava desenhos de uma revista infantil!

- puff... Murta, você esta sujando a cama e o chão com essas suas besteiras... Sai do meu quarto!

Murta, quer dizer, Clarissa, saiu do quarto gritando: "nosso quarto!!!, nosso!!!" Bateu a porta que novamente se abriu com o impacto! Esqueceu-se de desligar a tv.

Sofia joga o livro na cama, coça a cabeça, e vai até a TV para enfim desliga-la. Aproveita que está de pé e fecha a porta. Liga o ventilador, deita-se e se cobre com o edredom cor-de-rosa. Ajeita o travesseiro para que ela ficasse inclinada. Voltou os olhos para aquelas letras torturantes.

"... o conde, pálido, com um olhar tenebroso, diabólico, tomou Sra. Harker em seus braços e...!

BLEM BLEM BLEM BLEM!!!!

-Sofia, olha esse arranjo!!!

Seu padrasto, Jorge, acabara de escancarar a porta! Tocava violão e queria mostrar a sua nova composição. Já era rotina. Todos os dias Sofia se assustava com a entrada do seu padrasto cantando e tocando! Sofia podia estar dormindo, se trocando, estudando, dançando de frente ao espelho, comendo escondida, fazendo qualquer coisa, que Jorge, sempre alegre, entrava de repente para lhe mostrar um novo arranjo, uma nova música, ou só pra tocar, sem pedir nenhuma opinião!

- Tio Jorge, estou lendo! Para com esse troço irritante, por favor! Falou Sofia levantando o livro cobrindo-lhe o rosto.

- Ah, desculpa... - Disse Jorge num tom muito triste e frustrado.

Sofia já sabia o que ele sempre falava e o imitava com perfeição. Fazia uma voz grave, mexia os braços pra frente, pra trás e trazia as mãos à cabeça: "tsc! Ninguém me dá importância nessa casa!"

Voltou-se mais uma vez ao livrinho de 400 paginas.

- hum, Van Helsin se retirou... hum... Dr. Seward... Senhora, Senhora. - os seus dedos corriam pelas letras soníferas procurando onde tinha sido interrompida - ah, aqui.. "... tomou Sra. Harker em seus braços e...”. Que é mãe?

- Que é mãe uma ova, olha o respeito menina! Eu sou sua mãe, não uma amiguinha de escola. Ah é, você não freqüenta mais a escola, virou uma vagabunda, bla bla bla bla.

Sofia fingia ler enquanto sua mãe de 1.47m falava ao vento. A mãe tinha entrado, também de repente, no quarto. Ia sair com seu marido, pois este estava muito triste com a desvalorização de seus talentos. Abriu o guarda-roupa da filha. Sofia logo se alertou: "não, minhas roupas de novo não". Lançou um olhar de desprezo para a mãe.

- Sofia! Quem e que te sustenta? blá blá blá blá..

A filha rebelde, que só queria um minuto de silencio para se deliciar com aquele clássico do romantismo, olhava para a testa da mãe esperando-a terminar mais um velho discurso.

- Terminou? - perguntou Sofia com desdém.

- Maria Sofia!

-Mãe, não me chame de Maria!

- Vamos fazer o seguinte: eu não uso mais essas porcarias das suas roupas e você não usa mais nada meu!

- Certo! - Sofia ria de raiva. Sua mãe saiu vestida com o vestido predileto da filha, bateu a porta com tanta força que esta se abriu novamente.

De longe escutou: "vamos Jorge, não agüento mais essa casa".

Enfim... Silencio.